sexta-feira, setembro 30, 2011

A predisposição do amor

O coração bate até mesmo quando não está apaixonado. Apesar da paixão ser considerada um combustível potente por muitos, talvez não seja bem assim. Existe um sentimento anterior a paixão e ao amor que daremos o nome de sentimento latente. Por que latente? Porque esse sentimento está oculto até mesmo para a pessoa que está sentindo. Ela sabe que sente, mas não sabe definir o que sente.
Esse sentimento latente se manifesta quando você sente um prazer e um conforto imenso de estar ao lado de uma pessoa que você nem sequer conhece direito, mas tem a sensação de que sempre estiveram por perto. Se pudéssemos falar para a pessoa uma frase que defina o que sentimos, essa frase seria "eu sinto uma lacuna por você" ou "eu estou completamente confuso por você". 
O sentimento latente é mais intrigante, sem compromisso e pode durar apenas um dia ou um mês. E se somado com tristeza pode até ser confundido com um repentino amor. É um sentimento que chega com uma manha sutilmente ardil, é confuso. Ele te deixa desconfortavelmente à vontade perto de alguém. 
Esse sentimento é bem mais energético e repetitivo quando se está sozinho. E quando você o sente por alguém estando comprometido, ele vira o sentimento "poderia ser". E pode ser dissipado facilmente já que não é tão intenso quanto a paixão. A única coisa a fazer é perder o foco. Perdendo o foco, não há mais sentido desse sentimento existir porque ele se alimenta do tempo que você passa pensando no que poderia ser se esse sentimento fosse outro. Não existindo foco, não existe sentimento latente. 
A probabilidade desse sentimento virar amor é muito grande. Só que um amor de 40. Aquele amor que não precisa abalar o mundo da outra pessoa pra existir. Um amor que existe pelo compromisso, pelo afeto e pelo carinho que se tem pela outra pessoa. 
O sentimento latente é uma predisposição ao amor. É quando ele evolui e você sabe que pode amar alguém sem clichês, sem competir com o vizinho a imensidão do amor, sem se sentir inseguro, contrariado ou explodindo de emoção. 
O sentimento latente é o estímulo, e em alguns casos o amor é a resposta.

Sentimento Repetido

Se você tiver paciência para prestar atenção na maneira como os sentimentos te influenciam, você poderia perceber que as tuas ações e reações se tornam cada vez mais pensadas e menos sentidas. Nós precisamos entender o que estamos sentindo, e para entender temos que ter sentido aquilo pelo menos algumas vezes na vida. Acredito que também exista um conhecimento adquirido pelos nossos pais, e que a maneira como eles nos educam também influencia na maneira como sentiremos as coisas. Tem pais que ensinam os filhos a aceitarem as decepções de uma forma mais branda. Coisa que o tempo pode curar. Já outros pais entendem que o fracasso é algo inadmissível, e que não se pode aceitar a derrota nunca. Nenhum dos dois está errado. Só que dependendo da ênfase que for dada, o filho pode entender que perder sempre é normal ou insuportável. E tudo o que precisamos é de um meio-termo. 
O conhecimento da emoção que estamos sentindo te livra de viver uma situação que já foi vivida. Você conhece o roteiro. Sabe que se alguém te abandonar, você irá se sentir magoado, com raiva, o coração acelerado e uma coisa ruim no estômago e no peito. Você precisa entender isso. Eu sei que não é fácil. Mas se você voltar os olhos um pouco mais para dentro de si mesmo, verá que a mágoa e a raiva passam. O coração desacelera e a coisa ruim no estômago some. 
As pessoas não possuem uma bola de cristal, é preciso entender que você não pode controlar o sentimento que alguém poderá te causar, mas você pode conhecê-lo. E se você conhecer esse sentimento, é bem mais fácil de controlá-lo. Alguns chamam isso de mecanismo de defesa. Por exemplo: Quando você ama demais alguém, e de uma hora pra outra o relacionamento finda, você fica arrasado. Você sofre, xinga, chora, fica remoendo o término do romance por um mês e depois isso acaba. Pronto. Você já não sente mais nada. Quando você inicia outro relacionamento, você já sabe quais são as coisas que te machucam, então você as evita. E mesmo que esteja preste a sentir toda aquela insegurança de novo, você simplesmente para de pensar naquilo e se distrai com outras coisas mais importantes. Você já sabe como agir diante da mágoa, e sabe o que fazer pra ela passar.
As coisas que passamos durante o dia são importantes para aprendermos a conhecer os nossos sentimentos, não estou dizendo que isso fará com que você se conheça melhor, mas já é um bom começo. Nós precisamos prestar mais atenção nas emoções que as pessoas causam na gente. Isso quase sempre some depois de um tempo. Não importa quando tempo, sempre some. Também não estou falando pra ser cruel com todo mundo e sair fazendo o que bem entender. Até porque não é todo mundo que tem paciência de prestar atenção naquilo que sente, e dependendo do que você fizer você pode se dar mal. Estou me referindo mais às coisas que nos fazem sofrer. Que nos deixam com o coração partido. Essas coisas merecem ser conhecidas, analisadas e arquivadas para nos ajudar depois, se por acaso precisarmos fazer uma varredura completa dentro de nós mesmos para saber como lidar ou não lidar com situações futuras. Não é guardar rancor. É guardar experiências (depois de entendê-las).

terça-feira, setembro 13, 2011

Amor Volúvel

É raro o amor surgir em duas pessoas ao mesmo tempo. Tem gente que chama isso de alma gêmea. Eu chamo de sorte. Muitas pessoas estão sem sorte  nesse momento. Ou então acharam que esperar o tempo certo era o ideal e faria com que a sua metade aparecesse. Decidiram esperar, e depois de alguns anos queriam alguém do tempo errado pra ficar junto. 
Tem gente que se esforça tanto pra ser amado por alguém que não o ama que perde a noção do que é o amor em si. Às vezes você precisa das dores da rejeição pra saber distinguir quem gosta de você de quem não gosta. E muitas vezes o gostar ainda é confundido com essa indiferença porque nos fizeram acreditar que as pessoas são orgulhosas demais para admitirem o que sentem ou que estão confusas.
O problema de não ter certeza é que você acaba dispensando uma vida que seria legal de se viver junto pela comodidade de estar comprometido com alguém que não se encaixa em você, pelo fato de que os anos decifraram todos seus segredos e que eles não teriam que fingir um começo para ser sincero no final. 
Ninguém mais sabe o que é o amor. Estamos todos confusos. Há conceitos demais. As revistas que trazem reportagens sobre o comportamento humano, os filmes, os livros, criaram um manual do amor. Só é amor o que bate com os itens, o que aparece na novela, o que está escrito nos livros.
O mais estranho de se ter sentimento por alguém pela definição do mundo é que o amor acaba. Vai um, vem outro. Se você não ama mais alguém, amará outra pessoa. E isso sempre acontece. Parece que o amor é uma estrada de mão dupla, onde só tem um carro que vai e muitos outros carros que passam.  Mas que deveria ter só um outro carro na contramão.
A realidade é que nunca estamos satisfeitos com o que sentimos. Pensamos que poderia ser mais: Mais legal, mais divertido, mais forte, mais intenso, mais romântico, mais sexo. Começamos com pouco, evoluímos pra muito e acabamos em nada. E o ciclo se repete infinitas vezes.
Será mesmo que o amor é tão volátil? Quando pensamos no amor, imaginamos algo permanente. Algo constante. Mas a forma como começa e como acaba e como começa de novo, faz parecer o amor algo inconstante. Qual seria então o verdadeiro sentimento?
Tem vezes que temos uma atração tão forte por alguém que a facilidade de sair um eu te amo bem sonoro se multiplica em zilhões de vezes. Você tem até o direito de sentir uma coisa estranha no estômago, mas quando passa é embaraçoso. É fútil. Como se você tivesse pego uma doença por uma semana, ou por meses.
Conheci pessoas que conseguiam amar mais de uma pessoa. A argumentação foi plausível, mas o sentimento é diferente. Sentir atração por alguém é facilmente confundido com amor. Até porque a atração, no sentido real da palavra, é uma 1. Força que faz com que um corpo se desloque para ir a outro. Como lutar contra essa força? Como evitar essa força? Como não confundí-la com o amor? É triste dizer, mas só o tempo e o arrependimento pra responder. Mas a gente não se arrepende de tudo também. Só quando você viu que o seu erro foi, de fato, a maior burrice que você já fez. Mas o que é certo e errado quando se gosta de alguém? Eu não sei. Só sei as coisas que não são legais de serem feitas. E mesmo assim, se o impulso for muito forte, o teu raciocínio vai fazer uma viagem pra china. E te deixa aqui, sem o lado racional da vida.  
E então, o que é o amor?

sábado, setembro 03, 2011

Versão Original

Não é difícil compreender a vida se você é um espectador. Eu sempre quis entender o objetivo de viver sem ter que procurar na literatura uma opinião que se molde ao meu pensamento ou que molde o meu pensamento. Aceitar uma opinião formada, escrita e publicada é bem mais fácil do que tentar compreender o que se é apenas olhando de dentro pra dentro. Eu sempre desconfiei muito das pessoas. E sempre falei sobre o amor com desengano. Foram as definições que existem que me fizeram ter essa falta de conceitos pra entender a vida. Eu tenho uma ótica de dicionário, não de vida. Todas as minhas opiniões foram emolduradas e moldadas por outras pessoas. O que me assemelha, eu guardo. O que me contradiz, eu descarto. Mas sempre em cima da opinião de alguém. Não importa o que eu fale, eu sempre terei a palavra de alguém na boca. 
Como entender a vida sem as definições? Sem as racionalizações? Eu entendo que nós precisamos da fala e da escrita, e que é preciso definir os comportamentos, ajustar um padrão. Mas ás vezes parece que todas essas palavras e jeitos me excluem, e que a forma como eu sinto as coisas, se não for parecida com toda essa experiência de 4 bilhões de anos que a terra carrega, não se é. Não existe. Ou simplesmente me caracterizam como uma sociopata, ou alguém com um transtorno qualquer. Não é querer ser diferente. É ser uma peça quadrada e sem encaixe pra esse quebra-cabeça que existe. Mas, ainda assim, ser uma peça. Igual aos outros.
Como ter uma visão do mundo e das pessoas sendo alguém sem influência externa? Como entender o sentimento cru? Eu não quero desprezar a nossa língua e a nossa bagagem de aprendizados, só queria saber como é o amor e as outras coisas apenas conhecendo-os por dentro de dentro. Não sei como isso seria possível, mas eu apenas não quero mais uma versão.