sábado, novembro 12, 2011

Abstração

Como pode um sentimento durar tanto tempo? Com todas as aulas de fisiologia e textos de psicologia na cabeça, acredito que a exposição à uma doença, um fato, uma pessoa, uma lembrança te faz ficar melhor em relação aquilo. É até um tipo de psicoterapia se expor às lembranças que te deixam para baixo. Ouvi relatos de que os pacientes melhoram. E se ficam como eu fiquei, realmente melhoram. Mas os sentimentos não somem. Você aprende a lidar com eles. E no auge disso tudo, eu apenas queria uma imunização. 
Meu cérebro vive da abstração. Ele recria todas as situações (somente as boas) de estarmos juntos. Constrói memórias que nunca existiram para poder fazer de você uma pessoa melhor pra mim. E esses momentos que nunca tivemos foram reconstruídos dos segundos que eu fiquei olhando pra você enquanto ainda podia te tocar. Nem tudo o que eu lembro é verdade, mas a reação que o meu cérebro desencadeia faz parecer verdade para o meu corpo. E isso gera uma coisa parecida com a saudade. 
Você virou uma fotografia. Um momento congelado. E eu sei lidar perfeitamente com toda essa lembrança, mas eu só não consigo fazê-la ir embora. Eu fico depressiva quando me lembro de você porque eu queria estar contigo, só que a interação de todas as vidas da terra, o bater da asa da borboleta de Tókio, e até mesmo Deus não quis que ficássemos juntos. Se nenhum deles quiseram, então por que é que eu não posso simplesmente te esquecer? Essa capacidade de ficar criando situações que nunca presenciamos não vai me ajudar em nada disso. Eu quero te abstrair, não te recriar.