sexta-feira, abril 28, 2017

Eu desapontei o amor

Existem esses dias cinzentos em que o frio chega sem você se dar conta de que a estação já virou, de que já é inverno. Nos relacionamentos com as pessoas parece não ser diferente. Um dia a vida chega repentinamente e bate na sua porta pra mostrar que alguma coisa mudou, que as coisas não são mais como antes. Você não sabe ao certo o que poderia ser em meio a tanto "se": se foram as brigas repetidas; se foram as exigências não cumpridas (ou cumpridas); se foi a distância maior do que a distância física; se foram as cobranças por termos melhores; se foram as discordâncias ou as concordâncias; se foi realmente o tempo ou diversas e inúmeras outras situações. 
A questão de tentar fazer o outro te entender e te aceitar sempre foi cansativa em um relacionamento. E talvez essas tentativas de fazer o outro ver o seu ponto de vista acaba, ainda que pelo cansaço, mudando a outra pessoa. E de repente, a pessoa que você conheceu no início some como se tivesse sido compactada no meio das palavras "me aceita como eu sou". Eu estraguei uma pessoa assim, e tenho consciência disso. 
Eu queria uma vida diferente da que eu havia vivido alguns anos atrás. Uma vida que pudesse ser fundada na tranquilidade e na paz. Mas eu me apaixonei por uma pessoa que era movimento, que era velocidade. E da mesma maneira que foi difícil pra ele saber lidar comigo, foi difícil pra mim também saber lidar com ele. E nós entramos em vários embates. 
Eu não sei até que ponto nós devemos aceitar e relevar comportamentos. Até que ponto podemos interferir na maneira que cada um tem de enxergar a vida e o mundo ao seu redor. As pessoas dizem que temos que ser completude e buscarmos viver a vida da forma mais simples. Quando digo simples, refiro-me ao modo de sempre tentarmos desenrolar os nós sem atrito, respeitando o outro e os seus direitos. Sabendo colocar-se no lugar de cada um e não ultrapassar os limites tentando impor o nosso ponto de vista. Sempre estarmos de acordo e em plena paz de que podemos discordar e ainda ficarmos bem. 
E foi tentando demonstrar esse mesmo ponto de vista que percebi que eu impus à pessoa pela qual me apaixonei essas mesmas condições. Eu usei vários termos referindo-me a liberdade, a confiança, ao amor para provar que eu estava certa e convicta das minhas afirmações, que eu compactei o carinho e o cuidado que ele tinha por mim. Eu o soterrei de uma tal maneira que ele optou por se tornar invisível, justamente porque não importava a mudança que ele fizesse, eu ainda acharia que qualquer ato que ele fizesse arruinaria a minha liberdade, quando na realidade ele só queria fazer parte. 
Eu ainda quero paz. Ainda quero tranquilidade. E quero ainda mais que nós possamos voltar a sermos tão carinhosos quanto éramos no início e discutir da forma mais pacífica que existe a melhor maneira para cada um ser a pessoa que se é e ainda assim ficarmos juntos.
Eu sei que eu errei feio, mas parafraseando um amigo, eu errei tentando acertar. E peço desculpas por tê-lo soterrado com as imposições do meu discurso. Eu racionalizei demais os meus sentimentos e antes mesmos de te conhecer, eu tinha vários pontos imutáveis dentro de mim. Eu estava querendo tanto reafirmá-los que não deixei espaço para que você os visse por si mesmo e decidisse por si só a melhor maneira de agir. E eu sinto profundamente por isso e peço desculpa.

"You could still be what you want to be, what you said you were when I met you, when you met me."

terça-feira, abril 11, 2017

O retorno do mesmo

Nietzsche algumas vezes discorreu sobre a lei do eterno retorno, demonstrando que a vida está limitada a um número finito de acontecimentos, e sendo assim, escreveu: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência". 
Trazendo esse conceito para o nosso cotidiano, eu percebi que a nossa vida em vários momentos é uma repetição, ainda que com algumas nuances diferentes. Eu costumava achar que era uma oportunidade de tomar atitudes diferentes quando essas mesmas histórias, ainda que com outros personagens, aconteciam. E mesmo se houvesse alguma decisão diferente, a história tornava a se repetir. E então, as decisões eventualmente se repetiam também. 
Existe uma certa atemporalidade nessas repetições. E eu acredito que esse eterno retorno seja parte do nosso subconsciente para reafirmar algo aprendido direta ou indiretamente durante a nossa vida. Como se aquela situação devesse ser vivenciada sob diferentes formas,  infinitas vezes para firmar o alicerce das nossas (mesmas e repetidas) decisões,  visto que parece haver uma necessidade de complementaridade, onde se tem que passar pela dor e pelo prazer para podermos enfim ter um marco realmente reconhecido e assentado no nosso subconsciente.