O que você pensa influencia muito na maneira como as coisas acontecerão. Eu fico analisando as pessoas e a forma como elas se relacionam com a própria vida, e me vejo afundando num mar de probabilidades. Será que elas sabem exatamente aonde estão indo ou só eu que pareço estar flutuando nessa imensidão de escolhas?
Dizem que é importante traçar objetivos. Traçar uma reta até as coisas que realmente importam. Mas e quando a tradução do que você é também é uma interrogação?
Parece ser tão fácil ter objetivo quando você sabe o que é realmente importante. E como eu fico pensando que é uma sorte estar vivo nesse mundo, nada consegue ter tanta importância (exceto a saúde e a segurança das pessoas que eu amo). Todo mundo escolheu algo, eu que não escolhi nada fico com a filosofia shakesperiana na cabeça, parafraseada: "Qualquer coisa serve". Não que eu vá optar seguir uma vida sem caráter algum, eu sei a relevância de um bom relacionamento com os "bons atos", eu só não sei o que fazer com o resto de tudo.
A dedicação que uma pessoa tem pelas coisas que faz muda todo o cenário em volta dela. Apesar de que eu vejo a nossa sociedade com olhos nebulosos. As coisas verdadeiras estão embaçadas, e eu não consigo ver claramente a essência que faz com que os atos de todos tenham algum significado.
Eu procuro alguma coisa, mas eu não sei o que encontrar. Tento entender por que a nossa sociedade funciona dessa maneira, e se eu estou de fato fora de órbita. Se eles sabem o que estão fazendo, por que eu não sei? Eu li num livro que quando perdemos um de nossos pais, aquele com quem temos uma conexão mais intensa, é normal sentir-se perdido e desajustado. Só que eu não quero por a culpa apenas nisso, eu entendo o tamanho (oitenta por cento) da parcela que a morte da minha mãe tem no meu atual estado de ver o mundo, mas talvez tenha algo mais. Ou talvez seja unicamente isso, porque eu me lembro de ser outra pessoa quando ela ainda estava aqui. Eu tinha um conflito mais ameno em relação ao significado de tudo. Não existia toda essa perturbação e auto-exílio. O desconforto era causado pela falta de pessoas, não pelo excesso. Agora multidões me incomodam. Pessoas superficiais me desconfortam. Eu desaprendi a conversar. Fico imaginando o que eu poderia dizer, e como dizer, mas o porquê dizer acaba não me deixando falar sobre coisas que normalmente são ditas numa conversa. O que eu poderia falar? Sobre o que as pessoas normalmente conversam? Eu já não sei mais. E o que eu tenho a dizer não é tão interessante pra quem não está também fora de órbita.
Quase ninguém se interessa pela sua confusão. Ninguém é obrigado também. O mundo vive em total desordem acobertado por uma legislação que mal funciona, quem se interessaria em saber se a vida do próximo está uma bagunça? Cada um é o próprio sol. Só que ninguém admite isso. Fingimos ser altruístas, e a nossa sociedade parece funcionar muito bem assim. Espero estar errada.