É quando sabemos que corremos riscos: Ao andar na rua, na BR, num bar, num carro, entre pessoas.
Corremos diferentes tipos de riscos todos os dias: O de encontrar alguém que queremos encontrar a muito tempo, de ser pego pela polícia com o documento atrasado, de bater o carro, de ir pra um lugar maravilhoso, de se apaixonar por alguém que no momento nem sabe o que esse verbo piegas e estritamente impulsivo significa.
O coração é um dos primeiros órgãos que sofre com a tomada da decisão que os riscos impõem, depois vem pulmão, estômago e intestinos. O corpo todo tem que assumir que tem cinqüenta por cento de chance para cada lado. E ele é afetado em cem por cento de qualquer metade. Mas não é sobre isso que eu quero falar. A pergunta que me vem sempre à cabeça é: Como impedir que o coração se parta?
É normal que após tantos relacionamentos e tentativas que não deram certo, estarmos indispostos a receber qualquer "intruso". Até mesmo dentro de nossa própria casa, que ao deixá-lo entrar, apresentá-lo a família, convidá-lo para sair com os seus pais, não fique clara e óbvia a sua intenção e a maneira como as coisas, de certa forma (boa ou ruim, depende do seu ponto de vista), estão se complicando para ambos (ou só mesmo um) lado. E como se desfazer disso tudo depois?
Como aceitar o fato de que, ao se encontrar cortado aos pedaços, você ainda tem que se deparar com um monte de lembranças pregadas em sua cabeça, como o fato de o carro dele estar parado em frente ao lugar que você mais adora ir e você para também e entra com uma desculpa qualquer só para poder vê-lo, com cópias desse mesmo carro andando pela cidade com placas diferentes, com o perfume dele em outras pessoas, com a rua da casa dele, com as músicas que tocavam no seu carro, com os tiques dele que ficaram em você? E o que deve ser feito com isso? Como é que se apaga? Como é que se esquece?
Falaram-me sobre defeitos, e algo como exaltá-los. Não funcionou comigo, porque entre tantos, eu não consegui achar nenhum que me incomodasse o suficiente para repentinamente acordar, pensar no mesmo e, BOOM, o sentimento foi embora.
A frustração com a atitude da pessoa funciona melhor do que qualquer defeito exaltado, mas ainda te deixa com aquela sensação, àquela que te sufoca durante a semana toda, e que qualquer pressãozinha estúpida do teu chefe, te faz chorar mais do que quando você perdeu alguma coisa importante quando era criança. Por isso que tem que ser montado um conjunto, porque é preciso se ter certeza de que aquela pessoa definitivamente não é a pessoa certa pra você. Um conjunto de erros, palavras mal ditas e malditas, atitudes inaceitáveis, chantagens, abraços que te faz arrepiar até os pêlos da nuca, aquela coisa explícita e estampada na cara de que você está completamente apaixonada por quem não deveria estar, aquele corpo que você fica observando quando ele se afasta do teu, aquele sorriso que parece que clareou a sala toda de tão lindo que é, aquele jeito de andar, de se mexer, aquela esquiva maldita, aquela indecisão, aquela confusão, aquilo tudo que complica o gostar e o querer tanto não estar gostando.
Ele é uma das pessoas mais maravilhosas que eu conheci até agora, e que apesar das chantagens, de gritar comigo no telefone, de pedir pra que eu o esqueça num ataque de raiva, de ter me deixado de lado depois de intrometimentos alheios, de ter problema em me escutar, de me fazer perguntas que fico sem reação pra responder, de ficar “mi bigaaaaando”, eu gosto dele ainda mais do que deveria gostar. Como se nada adiantasse. E ele vai carregar agora o peso de ser perfeito pra mim com todos os defeitos, até eu finalmente um dia esquecer que ele os tem. Já que esquecer faz parte do curso natural do término de qualquer tipo de relacionamento. Mas agora, eu não quero esquecer, a não ser que...