segunda-feira, setembro 07, 2015

Quadrante das horas























Ele sabe ajustar os ponteiros do relógio para desorientar os instantes, tornando-os tão devastadores e bagunçados que perdem o seu sentido horário, não sabendo mais para que lado devem seguir. Sabe que no meio dos meus segundos, existe um intervalo que confunde o lugar das mãos, e que em horas assim, as minhas pernas já não sabem o que fazem: se fogem ou se abrem um buraco no chão pra se fincarem feito raízes, e dali não saírem nunca mais.
Ele sabe provocar as pausas no tempo deslizando os dedos entre os minutos, apertando as agulhas contra os quadrantes, fazendo o relógio parar e indicar que ele pode ficar naquele instante por horas, e eu praticamente imploro pelo sentido contrário dos ponteiros para deixar o tempo voltar, e eu então poder arrumar o lugar pra ele poder, enfim, ficar.



domingo, abril 12, 2015

Sombra

De repente, eu me escondi na sombra, e vi o meu corpo, coberto de abstrações, passear pelas estórias que eu havia criado pra mim e desapareci no esquecimento das coisas boas que não acontecem. Por comparação, eu vejo que existe uma luta necessária para viver dentro dos sonhos bons, e que talvez seja uma batalha que não pode ser lutada por ou pra mim. O tempo é aliado de quem nessas horas? Existe uma espada pra ser levantada por mim nessa guerra de querer ganhar todos os clichês?
Eu sei que não existem moldes corretos a serem seguidos porque cada sociedade cria e se baseia no seu próprio modelo, e que esse estereótipo que eu quis pra mim advém das coisas sentidas por querer imitar algum cotidiano que eu acredito que serviria pra me encaixar dentro do mundo de um só que eu inventei.
Deveria ser fácil ser o espectro que anda entre as vidas que eu teria vivido, que eu me vejo vivendo e que não se tornam realidade, mas eu virei a sombra que geralmente some no escuro que ninguém vê, e que se adequa a qualquer feixe de luz. Não questiono a resiliência, indago as atitudes. O que esse mar de palavras vai fazer com a gente? O que essa imensidão de lembranças vai fazer comigo?
Eu espero profundamente que a vida não seja cíclica, e que na linearidade das coisas que acontecem, eu possa realmente deixar algumas coisas pra trás: o tipo de amor que machuca, os abraços que deixam uma falta que sufoca, as surras beijos que nunca mais serão dadas, as brincadeiras que não serão mais feitas, as mentiras que foram ditas, as vezes que me encolhi na cama de tanto chorar, o desespero de não entender, a impotência de não poder lutar, os apelidos, os lugares que não serão mais visitados, os momentos de estranheza, as palavras que doem, a angustia que dilacera o peito, os sentimentos que não duram e a tristeza de desistir.


"Eu pensei em deixar você, me livrar da dor e voar. Eu pensei em deixar você, me livrar da dor e crescer..."






domingo, fevereiro 22, 2015

Chiesta

Eu fiquei me perguntando se havia telefone em Manaus.
Se há lugar do lado. Se tinha um lugar no carro.
Se ainda estava dentro do abraço.


Indaguei-me se ao menos havia um espaço, um lugar no altar.
Se há um lugar pros dedos, um espaço pros beijos.
Se havia um assento marcado, um convite guardado.


Perguntei se tem vaga pro riso, um canto escondido.
Se algum avião poderia me levar embora.
Se alguém não me deixaria passar da porta.


Quis entender o sentido, tão unidirecional, do egoísmo.


Tarja preta



Tarja preta


A minha felicidade está dividida em 28 pedaços
que se espalham em uma caixa preta, e se dissolvem
em sucos gástricos de tristeza.

Partes dosadas que não me livram do desalento dos
dias contados em que hei de pensar na morte.
E que o sinônimo de ser forte é ter olhar triste,
caminhar hesitante e um pesar na sorte.


Metades tomadas por inteiro pra ter a fixada
adinamia arrancada do peito pelos intervalos de clarão
e noite das horas plantadas no corpo lacerado.


Um todo contristado feito de refúgio e coração.
Repartido por horários,
Repetido nos vocabulários,
Como máculas de desistência e substituição.


Um meio de fechar o olhos,
e pedir que o tempo páre.
Uma parte destoada da melancolia.
E um todo que diverge da alegria desses dias.

Desabitado de mim

O fato é que eu não consigo esquecer alguns detalhes, uns contornos também. Pedaços inteiros.
O coração está retraído e distraído com tantos impasses, tamanhos embates esses que fazem do sentimento essa prisão. Possuo grades contorcidas no peito, e estas me rasgam a pele.
O que te lembras quando digo: S-I-M-P-L-I-C-I-D-A-D-E.
São as coisas singelas. As coisas pequenas que contam: Esse seu olhar, essa sua boca.
Coisas pequenas, meu caro. Coisas que rodam a vida.
Então vem o descontrole, e é pelo tamanho descuido com as palavras que deixo o peito nesse imenso devoluto. O vazio de não-saber. Que deixo este desmedido corpo desabitado de mim. Ora cansado, ora exausto. E outrora espalhado por estas ruas que passo de olhos fechados.
Ruas que me lembram as chuvas e as brigas. O silêncio e os sorrisos.
Ruas que são feitas de Barros, Osório e Filho.

Cartas de amigos

Cartas de amigos


De: Rafinha.

Date: Sat, 6 Sep 2008 06:01:26


"Sabe, queria te dar um abraço bem forte e verdadeiro, desses bem apertado e cheios de sentimentos para quando te largar tirar de ti toda essa falta, tristeza e dor que sentes. Infelizmente acho que a distância me impede, mas como eu queria isso...como queria ver alguém que me trata com tanto carinho sem ao menos ter contato pessoal sorrir o mais belo dos sorrisos, ver um brilho a mais em teu olhar, enfim, ver-te feliz. Fica sempre bem, menina mais bonita que já vi. Adoro você, mesmo na distância."


Resposta:


De: Carol

Date: Sat, 6 Sep 2008 06:01:26







Invertido

É o inverso. Reverso. Contrário.
O lado oposto do desgosto.
O corpo do avesso.


Sorrisos.
Inúmeros deles.
E o teu como vaga lembrança preenchendo o vazio.

Rodopios

Até inconciente sente.
Pesado de lembrança,
cansado dessa apatia
E da lassidão latente das horas,
sem ver-te.

Pílula simulando a quietude,
é como parar de sentir,
E nos rodopios das ruas
Um sinal de fogo
Fugindo de carro.

Escurecendo os atalhos,
e as esquinas em retalhos
Saudando o desespero
De braços abertos e
O vazio do dia sem você.

Entrelinhas


Correndo
Entre os
Zéfiros,
Afastado dos seus
Ruídos.

{E.M}

Despedida

Rubem Braga

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

Mantra I

Eu preciso te esquecer.
Eu preciso te esquecer.
Eu preciso te esquecer.

Eu preciso te esquecer.
Eu preciso te esquecer.
Eu preciso te esquecer.

Eu preciso te esquecer.
Eu preciso te esquecer.
Eu preciso te esquecer.

Preciso.

Engrenagem

Quanto tempo demora pra perdemos alguém?

A cidade nunca para. O tempo não congela. Só que o coração, ás vezes, parece parar no tempo. Bem naqueles detalhes, aqueles olhares. Aquela boca que você fica prestando atenção quando abre um sorriso.

Ele para nos abraços, nos beijos, nas conversas, no toque, no jeito. Esse é o relógio que não continua. E tudo se desfaz em lembrança, essa é a engrenagem que pára a nossa cabeça mesmo que se passem cinco meses ou cinco anos.

A pessoa fica presa naquele dia que passou há dez anos atrás. Naquele segundo antes de dizer adeus. Naquela hora em que precisa tomar uma decisão. Naquela primeira vez em que você realmente viu quem precisava ver, e também nas horas em que falhou com alguém.

Gostar é algo complicado, principalmente se o corpo da pessoa que você quer amar continua seguindo no sentido horário, até mesmo anos-luz do teu corpo, enquanto o seu não para de voltar no tempo, e nem sequer segue um segundo com ele.

A luz desloca-se numa velocidade de aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo, nada viaja mais rápido do que ela, sendo assim o ano-luz vale 9 460 536 207 068 016 metros. Aonde essa pessoa deve estar agora?

E você? Se você for como eu vai estar parado naquele minuto. Naquele segundo. O tempo passou, mas parou o seu coração.

E no meio disso tudo talvez alguém te sacuda, talvez alguém te dê um choque, talvez alguém te desperte e te faz seguir mais rápido que a velocidade da luz. Talvez. Só que até lá eu continuo presa em alguns desses momentos.

Não adianta forçar que o tempo siga pra você. Isso tem que acontecer do seu jeito. Esquecer pode demorar, mas tudo se deteriora. Você repete tanto essas lembranças em sua cabeça que os detalhes vão se perdendo, e você vai esquecendo. E o que vai ficar em você serão as coisas que outras pessoas irão te trazer.

Uma vez me falaram em “lembrança de sentimento”. Quase todas as vezes que eu me apaixonei, eu pensei que duraria para sempre. E o sempre durou, até simplesmente eu não lembrar mais.

Ter sido

Estar sendo,
No breve momento,
Teria sido o que não fosse ser
Sem ter sido o que se foi desde então.
Mas já sendo,
Tenho que ser o que fui
Sem ser o que se era antes
De ser o que sou agora.
Porém só tenho a dizer que
O sendo me é agora o que fui antes,
Não sendo mais como era
Depois de ser o que fui antes de ser essa agora.
E o ser há de existir,
Pois a saudade ainda o é,
E não deixará de ser desde então.
E se a saudade ainda é, só será se for de ti.

Bilhete de embarque

É a pele queimada.
O sol da praia.
O nó descendo pela garganta.
A camisa marcada.
O dente.
O sorriso.

E mais uma vez aquele avião.
A mala.
O horário.
A espera.
O abraço.
E o adeus.

É a camisa queimada.
O nó no sorriso.
A pele marcada.
O aperto dos dentes.
O abraço de adeus.
E o caminhar.

Traço

Que balbuciar a noite trouxe,
Que palavra mal dita,
Que traço mal feito,
Se é de cansaço que me fado,
Se é de espera que me alimento.

Que bocejar incessante me traz a meia noite
Se é na hora que corre que desfaço o meu alento
Se é na vaguidão das ruas que encubro o sentimento
Se é nos olhos que não me vêem que procuro
Cessar esse tormento.

Se é de asa que se faz nesse momento,
De que me vale agora o encanto,
Se não te fez ficares.
Do que me adianta buscar-te,
Se não é por mim que esperas?

Pra que tantos sorrisos,
E telefones indecisos,
Desculpas disfarçadas e esfarrapadas.
Pra que tanto descaso, se é no acaso
que o amor nasce.

Se é só tua boca que pára esses anseios,
A distância que se perde entre os meios,
O asfalto que corre pra tua casa
O carro sem destino que te encontra,
Aonde o amor descansará primeiro?

Então há de balbuciar a palavra
No traço cansado que na espera boceja.
Traz a vaguidão para os olhos com tormento.
E o encanto de ficares e buscar-te
Ao esperar o teu sorriso indeciso e disfarçado.

E no descaso da tua boca
Entre a distância e o asfalto
Mora o amor.

E se...

Será que ele entende as sutilezas das letras?
Será que ele sorri apertando os dentes?
Será que quando beija sente o esmagar dos lábios na gente?

Será que quando se ausenta está distante?
Será que fechará os olhos com os meus sonhos?
Será que esquecerá dos outros dias?

Saberá lidar com o tormento?
Será que esquecerá as conversas de intervalo?
Será que é a leveza do peso que permanece em mim quando ele ja foi?

A distância é o tempo da minha casa
Pra tua em metros de milhares de
Segundos que dariam a volta na terra
Se não fosse a ausência.

Torpor de saudades e ruas cheias de probabilidades
De serem você em carros marcados, bancos sentados.
Branco de ser vago.

Será que seis acasos manteriam-me perto?
Será que um 'não' me jogaria pra tão longe?
Será que em teu sorriso tem alegria?

Será que a paz que traz contigo não é a minha agonia?
E se você apenas viesse?
E se você apenas ficasse?

Será que tua boca distorceria o que tens no peito?
Será que o que bate em teu peito não é um pulsar de acrílico?
Será que repete os toques?

Será que o de dentro está vazio?
Será que ser oco é o que tens de melhor?
E se a vaguidão que te cerca é aquilo que me esmaga?

E se ter controle significar perder a verdade?
Será que de verdade se perderia?
Será que na verdade o teria?

Balizas no vento, é um contratempo
o teu compasso.
Sorrindo pro tempo, é na demora
abstrata que guardo aquele que é o inverso.

E se eu te esquecesse?
E se eu não lembrasse?
E se você viesse?

E se você ficasse?


Confissões sobre M.G.A

É quando sabemos que corremos riscos: Ao andar na rua, na BR, num bar, num carro, entre pessoas.
Corremos diferentes tipos de riscos todos os dias: O de encontrar alguém que queremos encontrar a muito tempo, de ser pego pela polícia com o documento atrasado, de bater o carro, de ir pra um lugar maravilhoso, de se apaixonar por alguém que no momento nem sabe o que esse verbo piegas e estritamente impulsivo significa.
O coração é um dos primeiros órgãos que sofre com a tomada da decisão que os riscos impõem, depois vem pulmão, estômago e intestinos. O corpo todo tem que assumir que tem cinqüenta por cento de chance para cada lado. E ele é afetado em cem por cento de qualquer metade. Mas não é sobre isso que eu quero falar. A pergunta que me vem sempre à cabeça é: Como impedir que o coração se parta?
É normal que após tantos relacionamentos e tentativas que não deram certo, estarmos indispostos a receber qualquer "intruso". Até mesmo dentro de nossa própria casa, que ao deixá-lo entrar, apresentá-lo a família, convidá-lo para sair com os seus pais, não fique clara e óbvia a sua intenção e a maneira como as coisas, de certa forma (boa ou ruim, depende do seu ponto de vista), estão se complicando para ambos (ou só mesmo um) lado. E como se desfazer disso tudo depois?
Como aceitar o fato de que, ao se encontrar cortado aos pedaços, você ainda tem que se deparar com um monte de lembranças pregadas em sua cabeça, como o fato de o carro dele estar parado em frente ao lugar que você mais adora ir e você para também e entra com uma desculpa qualquer só para poder vê-lo, com cópias desse mesmo carro andando pela cidade com placas diferentes, com o perfume dele em outras pessoas, com a rua da casa dele, com as músicas que tocavam no seu carro, com os tiques dele que ficaram em você? E o que deve ser feito com isso? Como é que se apaga? Como é que se esquece?
Falaram-me sobre defeitos, e algo como exaltá-los. Não funcionou comigo, porque entre tantos, eu não consegui achar nenhum que me incomodasse o suficiente para repentinamente acordar, pensar no mesmo e, BOOM, o sentimento foi embora.
A frustração com a atitude da pessoa funciona melhor do que qualquer defeito exaltado, mas ainda te deixa com aquela sensação, àquela que te sufoca durante a semana toda, e que qualquer pressãozinha estúpida do teu chefe, te faz chorar mais do que quando você perdeu alguma coisa importante quando era criança. Por isso que tem que ser montado um conjunto, porque é preciso se ter certeza de que aquela pessoa definitivamente não é a pessoa certa pra você. Um conjunto de erros, palavras mal ditas e malditas, atitudes inaceitáveis, chantagens, abraços que te faz arrepiar até os pêlos da nuca, aquela coisa explícita e estampada na cara de que você está completamente apaixonada por quem não deveria estar, aquele corpo que você fica observando quando ele se afasta do teu, aquele sorriso que parece que clareou a sala toda de tão lindo que é, aquele jeito de andar, de se mexer, aquela esquiva maldita, aquela indecisão, aquela confusão, aquilo tudo que complica o gostar e o querer tanto não estar gostando.
Ele é uma das pessoas mais maravilhosas que eu conheci até agora, e que apesar das chantagens, de gritar comigo no telefone, de pedir pra que eu o esqueça num ataque de raiva, de ter me deixado de lado depois de intrometimentos alheios, de ter problema em me escutar, de me fazer perguntas que fico sem reação pra responder, de ficar “mi bigaaaaando”, eu gosto dele ainda mais do que deveria gostar. Como se nada adiantasse. E ele vai carregar agora o peso de ser perfeito pra mim com todos os defeitos, até eu finalmente um dia esquecer que ele os tem. Já que esquecer faz parte do curso natural do término de qualquer tipo de relacionamento. Mas agora, eu não quero esquecer, a não ser que...
Estou, tentando conjugar para estava.

Diálogos

- É, devia ter uma espécie de AA pra isso. Pelo menos as pessoas se conheceriam.
- "Oi, meu nome é Carol, e eu estou aqui pra esquecer alguém."
- Rs. Tipo isso mesmo.

- Essa pessoa que você fala, é da faculdade? Do trabalho?
- Nenhum dos dois. É da rua. É da vida. Menos minha.

- Eu estava vendo demais outra pessoa pra ver alguém.

- Qual é a diferença de um segundo pra uma hora?
- 23 horas, 59 minutos e 59 segundos a mais pra ficar com você.

- A melhor que já tive.
- Essa conjugação é só pra quem já teve.

- Como alguém para de escrever numa vírgula? E a curiosidade do leitor, como fica? Que terminasse numa frase sem sentido, em reticências, interrogações ou interjeições exclamadas, mas numa vírgula? O mundo não pode acabar numa vírgula, só pode continuar!
- , (pode começar com uma?)

Entenda que

- Quando você apareceu eu já tinha olhado pro lado. E não me importava se você caminhava em minha direção, não era pra você que eu olhava. Não era por você que eu sentia. E olha, a culpa não é tua. A culpa é das horas, do tempo que atrasou a tua chegada. Do momento em que ela chegou primeiro. Essas coisas não se evitam. Talvez, se você tivesse chegado antes quando eu precisava que você viesse, talvez, mas talvez mesmo, teria sido você. E quando você insistiu em ficar, eu quis que você ficasse, mas só pra poder esconder o que eu sentia por ela. Tanto que eu não deixei você entrar. Eu a deixei parada na porta, mas não a convidei pra ficar. É complicado pra mim, pior ainda pra você. Quisera ter entendido isso com mais clareza. Mas o importante pra mim era somar. Somar você e ela ao mesmo tempo. Juntas num mesmo sentimento por mim. E era aí que eu poderia ter as duas. Só então quando parei e olhei pelo teu ângulo que eu pude ver que eu só poderia estar com você se isso fosse por inteiro. E eu só entraria pela metade porque a outra parte viajou de férias pra tentar juntar os pedaços por dentro. Eu queria que você entendesse que não deixamos uma pessoa apenas porque não a amamos mais, deixamos porque não dá mais certo. E esse certo é só o tempo que você consegue suportar a saudade. Se você consegue anular isso, meus parabéns, era porque realmente o tempo tinha acabado. Mas posso garantir que meses ainda é pouco. Anos. Anos só se forem muitos mesmo. Essa coisa de novo amor pra esquecer o antigo é furada. Não acredite nisso. Ainda mais vindo de nós, homens. O principal é o sexo. Eu fico com você o tempo necessário pra isso. Até que se canse ou que eu me canse. Mas o meu amor por ela ainda continuaria intacto. Isso é uma coisa que a gente sabe muito bem separar. Aposto que você já ouviu isso. Eu posso com certeza gostar de você, mas não me exija amor. Eu vou ser carinhoso, vou respeitar o teu tempo, vou te dar atenção, andaremos de mãos dadas, ás vezes. Iremos ao cinema, almoçaremos, jantaremos, sairemos juntos, te apresentarei aos meus amigos. Isso a gente faz por costume. Mas uma coisa você tem que fazer por você mesma: Não se iluda. Não crie expectativas. Não se apaixone tão depressa por qualquer pessoa. Você vai acabar encontrando um cara legal, nem que isso leve algum tempo. E se você tiver paciência, essa pessoa vai ser do jeito que mais combina com você. Mas não eu, e não agora. Não adianta ficar procurando alguém tão depressa. Saia, mas não muito. Se divirta. Faça cursos. Viaje, se der. Faça amigos. Esqueça que você precisa de mais alguém além de você. Isso vai te ajudar. Até aparecer alguém. Mas desde que isso não te machuque. Agora entenda, o problema não é você. Sou eu. Eu que amo outra pessoa. E você vai ter que aprender a lidar com isso mais de uma vez, talvez. Eu não vou dizer que és uma garota incrível pra você não ficar se perguntando o porquê então de não estar com você. Eu só quero dizer que você apenas não é ela. E eu quero estar com ela. Ela é a pessoa incrível que eu quero ter do meu lado. Então procure uma pessoa incrível para estar do seu. Se cuida e fica bem sempre. Até um dia.

Anotações e adeuses

E é assim que a vida segue: Sem mensagens, sem ligações e sem o beijo dela.
Cumprimos parte do acordo implícito da vida - sumir um da vida do outro sem que isso cause uma dor dolorida e dolorosa. Ir embora como quem sai por cima, com o peito estufado de um orgulho falso e cheio de raiva por não terem inventado a máquina que volta no tempo. Uma das cláusulas era o encontro casual, que nem é tão casual assim porque, você, depois de estar tão acostumado a acompanhar, já sabe ir sozinho pros mesmos lugares. Costume que é evitado por um tempo, se você começar a ler o artigo “esquecer”. E esse artigo é tão extenso por causa das tantas exceções que tudo se resume ao tempo. E o que eu sinto por ela são anotações que prego pela casa, pelo trabalho, pela faculdade, por ruas, no meu carro, nas pessoas, nos bares pra onde saio, em meus amigos, e em mim. Mas não cheguei a ler as instruções de como despregá-las. Acho que nem existe esse capítulo. Acaba ficando tudo pregado e misturado com outros lembretes que foram e serão pregados. E é quando você está mexendo nos papéis antigos que aparecem aqueles escritos de três anos atrás em letras grandes de eu te amo. E tudo se mistura de vez. Tudo se complica sem ser complicado de fato. E é aí que você começa a ver o que é saudade. Essa parte dói. Lateja. É uma dor pior que a de bursite ou qualquer outra “ite” que você tenha. E te leva a definição de lágrima e tristeza como coisas latentes uma na outra.
E a única coisa que eu sempre quis foi amá-la, num tempo presente e sempre disposto.

Caras e Bocas

















Tantas caras a gente tem.

De tantos jeitos podemos ser.
Qual é o rosto que eu preciso usar
pra dizer que eu te amo?

Fragmentos

Se o corpo se cobre de desvios,
e a atenção se dispersa pela multidão,
onde estará você?
É prisão de letras no coração,
pesado de nomes por bater.
Será o troco então?

Se a indecisão te acompanha pela mão,
e te esconde pelas sombras,
onde estará você?
É medo de não ter-se só,
traçando rotas pra fugir.
Será o descuido então?

Se a vontade de não perder te impede de deixar,
mas te faz acenar adeuses pra quem quer ficar.
Aonde estará você?
E na voz gelada ao telefone ligar para
Aquecer-te as partes frias de estar só.
Será egoísmo então?

E se no peito pesa o que os lábios anseiam,
com rumores estreitos, calados nos dizeres.
Onde estará você?
Se com a boca te afastas, e julgas o próprio gostar.
Te faz morder os lábios ao invés de beijar.
Será vontade então?

Se a lembrança que não se apaga,
de um rosto que me consome.
AONDE ESTARÁ VOCÊ?
E na pele da cor do sol querer encontrar
um lugar quente pra ficar.
Será saudade então?


E se eu te beijasse?

domingo, fevereiro 08, 2015

Amor Propaganda

Descobri que tem pessoas que se perdem quando se deparam com um sentimento que às vezes a gente brinca que só pode ser encontrado em filmes. Mas, como em todo filme que envolve comédia romântica e drama, tem sempre alguém que se ferra no final. 
Todo mundo cultua o amor romântico, espera por ele ansiosamente, achando que pode encontrar na outra pessoa a resolução de todos os males do mundo, inclusive do próprio mundo. E esse é o fardo mais pesado que se pode carregar, pois não há como curar as dores de dentro construídas ao longo de tanto tempo. 
O amor das propagandas foi a maior invenção da humanidade pra nos convencer de que não nascemos e não morremos sozinhos. Foi o maior mito que já que existiu para fazer com que nos relacionássemos de forma civilizada e regrada com os outros seres humanos. E quando o padrão muda? E quando a pessoa é exatamente aquilo, que no auge da sua abstração sobre relacionamentos, você imaginou, ela não serve, pois, pra sociedade, ela não se encaixa no padrão capitalista de amor propaganda que se difundiu lentamente, e que foi construído e absorvido pela maioria das pessoas inconscientemente, não serve. Não serve porque não é consumista, não serve porque gosta de mato, não serve porque prefere plantas e animais do que gente, não serve porque gosta de sexo, não serve porque se comunica claramente, não serve porque sente tudo muito intensamente. E o pior de tudo é que esse sistema faz com que essas pessoas acreditem que são desajustadas, que não servem pra viver nesse mundo porque não tem o carro do ultimo ano, não tem o emprego que paga zilhões de dinheiro, não tem a roupa que a modelo da passarela usa, não calca o sapato da moca da novela. Não serve porque gosta de ser educada com quem quer que seja, não serve porque se comunica com estranhos, não serve porque não se encaixa no padrão que hoje em dia se chama de "Soma": seu dinheiro somando com o meu, e foda-se se um dia a gente se amar. 
Nós esquecemos dos seres humanos e do potencial que cada um pode ter. Esquecemos que uma pessoa pode manter a outra viva, que você pode impulsioná-la, que pode torná-la melhor. Esse imediatismo recorrente, de que tudo já tem que vir pronto, que nossa sociedade esta submersa, têm escondidos todos os detalhes, todas as características, todas as possibilidades, todas as pessoas boas que podiam dar o sentido e a definição do que o verdadeiro amor realmente é.